No ano 1927, criou-se em Vigo, o núcleo da vida da comunidade lusa na cidade durante o século XX. Agora é centro de solidariedade e fraternidade entre as comunidades portuguesas e galegas de aquém e de além.
A fundação do atual “Centro Português de Vigo” aconteceu um dia 10 do mês de Novembro do ano 1927 com o nome de “Centro Português de cultura artística e social”, em plena ditadura de Primo de Rivera. O primeiro lugar em sediar ao Centro foi na rua Arines do Castro nº1 da cidade de Vigo, também conhecida como a “cidade olívica”, sendo matriculado no Consulado Geral de Portugal, sediado na mesma cidade com o número 3857 e sendo aprovada a inscrição pelo Governador Civil da Província de Pontevedra em data de 3 de Dezembro de 1927.
Os fundadores foram 28 cidadãos portugueses, que ainda a dia de hoje, ficaram inscritos numa artística orla feita pela diplomata D. Fernando d’Oliveira no ano 1931 e que conservar-se-á na sé do “Centro”, ao mesmo que os livros de atas e de registos de sócios desde a sua fundação.
A sua finalidade primeira, fica recolhida nos seus estatutos naquela altura: “Agrupar no seu seio a todos os obreiros manuais e intelectuais portugueses, de ambos sexos que residam na Espanha”. E foi a sua atividade desde o primeiro momento, entre outros, uma biblioteca e uma caixa de beneficência para a ajuda mutua dos sócios necessitados.
No 24 de Maio do ano de 1936 em plena II República, antes do inicio da guerra da Espanha, assinar-se-ão uns estatutos onde aparece unicamente já a ração social da entidade como “Centro Português” e um novo domicilio na rua Catorze de Abril número 9 1º, sendo aprovados estes novos estatutos pelo Governador Civil em data de 2 de Junho de 1936.
Em assembleia geral de 1937 celebrar-se-ão uns novos estatutos. Nestes novos estatutos passa ao seu nome definitivo “Centro Português de Vigo” e com um novo domicilio na baixa da cidade, na rua do Principe número 13, 1º. Uma sé que vai ser até 25 de novembro de 1989 eixo da vida do Centro, quando o Centro trasladará para a um novo local na rua Romil número 12, 1º.
Em estes vindouros anos, tanto o Centro Português, como a própria cidade, viverão uma época de expansão e crescimento, numa época dourada, que tem a ver em muito, primeiramente com os benefícios económicos que vieram da exploração do wolfram para a industria de guerra dos nazis e do que Vigo foi destacado porto de saída. Um Vigo que naquela altura era cidade de espiões britânicos e nazis principalmente.
Nos 52 anos que esteve o Centro Português de Vigo na rua do Principe, uma das principais artérias da cidade, foram os de maior vida social que recordam os anais do Centro, participando ativamente da vida da cidade e contribuindo no que seria um fito na vida da mesma: a inauguração da estátua homenagem a Camões na batizada como “Praça de Portugal”. Um grande espaço no centro urbano, que seria durante anos centro de conexão para os autocarros que conectavam com as vilas da periferia da cidade e com as linhas de mais longo percorrido.
Nesta mesma “Praça de Portugal” todos os 10 de junho havia uma grande homenagem ao grande poeta, depositando pela Junta Diretiva do Centro Português de Vigo e sócios do mesmo e acompanhados pelas primeiras autoridades da câmara municipal, uma coroa de louros.
Durante este mais de meio-século, o Centro teve uma grande vida social como lugar próprio dos portugueses residentes em Vigo, onde partilhavam momentos múltiplos da sua vida social, mas também foram muitas as conferencias e a vida cultural. Entre outras pessoas o Sr. Comendador António Maria Santos da Cunha, Governador Civil de Braga, também o Vice-cônsul Sr. Victor Homem de Almeida, Dom José Manuel Coelho de Paula, organizador no Centro de diversos cursos comerciais e de ventas e por citar mais algum ao importante o professor D. Óscar Lopes, que inauguraria as primeiras das Jornadas Galaico-Portuguesas o dia 17 de dezembro de 1969 no Circulo Mercantil e Recreativo de Vigo com a conferencia “Panorama da literatura portuguesa”.
O professor D. Manuel Rodrigues Lopez palestra uma conferencia baixo o título “A questão do Amadis de Gaula no contexto peninsular” no que já seriam as II Jornadas Galaico-Portuguesas organizadas pelo Centro. Nestas jornadas, na sua 3ª edição, também participou o grande artista Ernesto de Sousa, com uma palestra intitulada “Arte e anti-arte”
Em 1986 a República de Portugal e o Reino da Espanha, entrariam na daquela Comunidade Europeia. Um fito que abriu à liberdade de trânsito no espaço comum europeu e que cambiaria para sempre a relação dos residentes portugueses na nossa cidade. Chegamos assim a 1989, onde começa uma nova etapa dentro do Centro, com nova sé na rua Romil.
Nesta altura, por vez primeira, o Centro Português recebe a primeira visita de um chefe de estado de Portugal, o Dr. Mário Soares, acompanhado pela sua esposa, visita o Centro Português de Vigo no 1991. Uns anos depois, recebe também a visita do pretendente da coroa portuguesa, o Duque de Bragança, D. Duarte Nuno, acompanhado pelo senador do Reino da Espanha o Dr. Adriano Marquês de Magalhães e por D. Francisco de Calheiros, Conde de Calheiros.
Durante estes anos na rua Romil dar-se-ão 16 cursos de iniciação à língua portuguesa e 7 de aperfeiçoamento, sendo a primeira pessoa a dar aulas de português a professora Dra. Lourdes Carita, e já a seguir a Dra. Rosa Andajo Correia, que era leitora de língua portuguesa naquela altura na Universidade de Vigo.
Aliás, a Dra. Rosa Correia iniciaria uma cumprida atividade em levar o conhecimento da cultura portuguesa a través do Centro. Iniciar-se-á o “I Congresso de língua e cultura portuguesa” organizado pelo Centro Português de Vigo e que contaria entre outros conferencistas com Dª Wanda Ramos, Dra. Vera Luzia de Oliveira; que na altura era leitora de português na Universidade de Perugia e notável poetisa, também a notável escritora Lidia Jorge ou o Dr. Fernando da Costa,…
Do 7 ao 31 de março de 1996 organizado pelo Centro Português de Vigo teve lugar o “II Congresso de língua e cultura portuguesa: homenagem a Fernando Pessoa”. As atas de dito congresso foram recolhidas pela editorial “Colibri” e que contou entre outros conferencistas com Dra. Manuela Judice, a Dra. Teresa Rita Lopes, a Dra. Isabel Vaz Ponce de Leão, o Dr. Richard Zenith, a Dra. Alexandra Koss, o Dr. Luciano Rodriguez e o Dr. Fernando J.B. Martinho, sendo a equipa organizadora a Dra. Rosa Correia, a Dra. Lourdes Carita, Dª. Edite Lucas e o próprio Centro Português de Vigo.
A Dra. Rosa Correia segue na atualidade a colaborar com o Centro Português de Vigo do que é Vice-presidente 1ª.
Nestes anos as evocações das atividades do Centro Português de Vigo seriam imensas, porem, não podemos deixar ficar de fora duas recordações. Como foram Pilar Muñoz Bacelar, funcionaria do Consulado Geral da República de Portugal em Vigo e que seria professora do Centro e outra, a nossa bem-querida, e que temos em grande estimação, a Dra. Dulce Matos, uma das pessoas fundadoras do “Cais da Cultura” de Lisboa, seguidora e aluna do professor Agostinho da Silva e colaboradora cultural do nosso Centro Português de Vigo desde o ano 1993 até o dia no que finou. Ambas sempre ficarão, já para sempre, na nossa memoria.
No ano 2002, a cidade de Vigo reconhece a vida inmensa do Centro Português de Vigo, no seu 75º aniversario, e concede a mais alta honra da cidade ao Centro, medalha de ouro da cidade.
Logo deste fito, o Centro Português de Vigo, entraria numa época de inatividade, já que muita das suas atividades, foram dirigidas pela “Sociedade de fraternidade Galiza-Portugal” e que durante esse tempo organizaria o “I Encontro Luso-Galaico” na cidade de Tomar. Desde esta sociedade colaborou-se com o concelho de Ansião,e na atualidade existe na freguesia de Alvorge o festival Luso-Galaico. Também estendeu a colaboração com a Juventude da Galiza em Lisboa a través de múltiplas atividades. Entre outras teve colaboração na investigação documental em Lisboa que no final daria o livro de Xan Leira sobre a emigração galega em Lisboa e um livro de Miguel Fernandez sobre D. Manuel II, entre outras muitas atividades.
Já na segunda década do século XXI, o Centro Português de Vigo reinicia a sua atividade, já quase exclusivamente, como entidade cultural a través do “I Coloquio sobre feminino e feminismo na literatura portuguesa”.
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