por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).
Com o Movimento, uma enorme quantidade de jovens foi eleita e entre eles, muitos jovens licenciados, desempregados, gente descrente na política, nos partidos e nas instituições em geral. Um verdadeiro ar puro vai penetrar no Parlamento e limpar certamente muita teia de aranha que por lá haverá. No entanto, por uma questão de princípio Grillo não quis ser eleito, é um tipo de liderança que recusa o estrelato e dá aos outros a oportunidade de brilhar.
Grillo, apesar de ser um homem do espectáculo, não quer falar na televisão, prefere os olhos nos olhos e as redes sociais e sonha que um dia os cidadãos se vão eleger entre si, vão ser capazes de mandar em si próprios e sem a tutela dos partidos. Será certamente um homem muito falado pelos media nos próximos tempos, talvez também porque nos vai dar muitas outras lições.
A verdadeira lição italiana não tem nada a ver com a governabilidade ou ingovernabilidade da Itália, isso já não constitui novidade e todos sabemos que os partidos são incapazes de colocar os seus interesses de lado e concentrarem-se apenas nos interesses dos países. Aquilo que verdadeira e historicamente aconteceu e deve ser, a partir de agora, uma referência europeia é que dois movimentos da Sociedade Civil representam hoje 36% do eleitorado. Alguma luz parece ter surgido, alguma alternativa para os nossos desgastados sistemas políticos baseados exclusivamente na representatividade através dos partidos políticos. Quer dizer que, ao contrário do que nos vem dizendo, lá como cá, há alternativas a esta alternância que nos tem destruído.
Importa agora falar de Portugal, da situação limite a que chegámos, das sucessivas más governações, da incapacidade dos partidos em colocarem o país em primeiro lugar, dos casos mal explicados, do afastamento dos cidadãos da participação política, da incapacidade de negociação internacional que nos sufoca com impostos, do grave desperdício que é a nossa gente desempregada e daqueles que tem que sair do país, do aumento assustador da pobreza, das pessoas que estão a ser destruídas moral e fisicamente…a tudo isto a resposta tem sido o agravamento da austeridade, da pobreza e uma total incompetência para criar e mostrar um futuro diferente.
Há um ciclo que se sustentou numa democracia representativa através dos partidos que está esgotada de ideias e porque se transformou num sistema fechado, esgotou também a sua energia, não se pode esperar muito mais dela.
Só com representação suficiente da Sociedade Civil, será possível avançar para uma revisão da Constituição, para a Reforma do Sistema Político, para a Reforma do Estado, para a eleição de um Presidente da República que coloque no seu programa este tipo de compromissos. Caso contrário,tudo não passará de mais uma farsa e a continuação do mesmo jogo de interesses. Estas é que são as grandes decisões que temos que tomar!