DIFICULDADES DA POPULAÇÃO IDOSA: um alerta da Médicos do Mundo, uma Associação PASC – Casa da Cidadania.

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Abandono, solidão, isolamento e privação material, combinados com escassos recursos financeiros e humanos colocam Portugal na tabela dos países europeus com os piores índices no apoio aos idosos.

Aproveitando o Dia Internacional da Terceira Idade, a 28 de Outubro, a Médicos do Mundo volta a alertar para as dificuldades desta população.

Atenta às questões que afectam a população idosa, a Médicos do Mundo tem desenvolvido ao longo dos anos diversas actividades junto da população idosa, através de projectos nas áreas dos cuidados de saúde e do envelhecimento activo. Actualmente, encontra-se a decorrer o projecto “Viver Saudável”, que presta Apoio Domiciliário gratuito, no âmbito de um acordo com a Segurança Social.

Desde o seu início, este serviço já apoiou 128 idosos, em termos de higiene pessoal, tratamento de roupa e da casa, actividades de socialização, atendimento de enfermagem, social e médico, para além do apoio do Grupo de Voluntariado Sénior com visitas e contactos telefónicos regulares. O Serviço de Apoio Domiciliário, que presta também apoio indirecto a cuidadores e familiares, abrange hoje, mensalmente, 25 idosos. Desde Janeiro de 2015 já foram apoiados 31 idosos.

Através do “Viver Saudável” a Médicos do Mundo assinalou o Dia Internacional do Idoso, no passado dia 1 de Outubro de 2015, com uma acção conjunta da equipa Médicos do Mundo e do Grupo de Voluntariado Sénior. Foram realizadas visitas a todos os 25 beneficiários do Serviço de Apoio Domiciliário e entregue um postal alusivo ao dia, uma flor e uma embalagem de rebuçados. No final da tarde, a equipa organizou um lanche convívio para os idosos autónomos que participaram nas actividades deste dia.

Promoção do envelhecimento activo, cidadania e saúde

Nas áreas do envelhecimento activo, cidadania e saúde, a Médicos do Mundo contou, até Agosto de 2015, com o projecto “Saber Viver”. No total, beneficiaram do apoio 95 pessoas acima dos 65 anos. A média de idades situou-se nos 76 anos, maioritariamente mulheres (80%).

Com o projecto, foi alcançado um aumento de 68% de participação dos beneficiários (o objectivo inicial era de 40%) e de 44% no acesso dos beneficiários a cuidados de saúde (contra os 40% definidos inicialmente) entre Setembro de 2014 e Agosto de 2015.

Numa visão holística sobre o envelhecimento, o “Saber Viver” desenvolveu estratégias transversais que englobaram as várias dimensões associadas ao processo de envelhecimento. Através de actividades lúdico-pedagógicas, recreativas, de animação e de exercício físico, o projecto desenvolveu-se num ambiente capacitador que facilitou o acesso a uma vida mais activa e mais criativa, onde a pessoa idosa está em comunicação com os outros, estimulando-se o desenvolvimento da personalidade e da autonomia.

Canto, caminhadas, informática, inglês, oficina de leitura, tai-chi, ateliers de trabalhos manuais e de costura, jogos, comemoração de efemérides e sessões de educação para a saúde foram apenas algumas das actividades desenvolvidas. No âmbito do projecto, disponibilizaram-se ainda atendimentos sociais, prestação de cuidados primários de saúde com consultas de enfermagem e atendimento médico.

Portugal é dos países europeus que menos cuida dos idosos

Portugal é um dos países europeus com maior abandono de idosos, menos profissionais dedicados à terceira idade e menos orçamento alocado a esta população. A conclusão é do estudo “Protecção Continuada a Idosos: Uma Revisão de Défice de Cobertura em 46 países”, publicado pela Organização Internacional do Trabalho, por ocasião do Dia Internacional do Idoso, a 1 de Outubro de 2015.

Existem apenas 0.4 trabalhadores por cada 100 idosos em Portugal, em contraposição aos 17.1 trabalhadores na Noruega. Assim, mais de 90% dos portugueses com ou mais de 65 anos não tem acesso a cuidados continuados de qualidade por falta de trabalhadores nesta área, a taxa mais elevada na Europa.

Apesar de ter uma das populações mais envelhecidas no mundo, Portugal continua a dedicar apenas 0,1% do PIB aos cuidados com os idosos. Em 2013, cada português contribuiu com 121 euros para os custos com os cuidados continuados, enquanto na Noruega, por exemplo, esse valor foi de 7160 euros.

No conjunto europeu, Portugal situa-se, assim, ao nível da Eslováquia e da Turquia, e a nível global, a falta de recursos financeiros coloca-o entre os países em que 75% a 100% da população se encontra excluída do acesso a cuidados, a par do Gana, Chile, Austrália e Eslováquia.

O estudo da Organização Internacional do Trabalho revela ainda que mais de metade dos idosos no mundo não tem acesso a cuidados continuados de qualidade, um número que aumenta para os 90% no caso do continente africano.

¼ da população idosa em privação material

Também o número de idosos em situação de privação material continua aumentar, atingindo ¼ desta população, segundo o *”Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2014 e divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a 17 de Outubro.

Apesar da privação material atingir com maior incidência o grupo de menores de 18 anos (27,4%), o aumento mais significativo registado em 2014 foi entre a população idosa (de 23,1% para 25,2%).

Igual tendência de subida regista-se no número de idosos a viver sozinhos ou isolados em todo o país. De acordo com o “Censos Sénior 2015” da Guarda Nacional Republicana, realizado em Abril de 2015, foram sinalizados 39.216 idosos em situação de risco (mais 5.253 do que em 2014), dos quais 23.996 vivem sozinhos (mais 2.680), 5.205 vivem isolados (mais 924) e 3.288 vivem sozinhos e isolados (mais 262).

A Guarda Nacional Republicana registou ainda 6.727 idosos que vivem acompanhados mas em situação de vulnerabilidade devido a limitações físicas ou psicológicas. Até Setembro de 2015, a corporação sinalizou mais de 500 idosos a instituições locais por necessitarem de apoio social e cuidados médicos.

Futuro com efeitos económicos e na inclusão social

Projectos como os da Médicos do Mundo vão ser cada vez mais importantes no futuro, tendo em consideração que, em 2080, Portugal será o segundo país da União Europeia com a maior população com 80 ou mais anos. Apenas a Eslováquia terá mais idosos, segundo dados do Eurostat divulgados a 1 de Outubro.

Em 2080, um em cada oito europeus terá 80 ou mais anos, com destaque para a Eslováquia com 16,3% da população e Portugal com 15,8%. A estes países seguem-se Alemanha (15,1%) e Polónia (14,9%). Em posição contrária encontram-se a Irlanda (7,4%), Lituânia (8,9%) e Letónia (9,5%).

Actualmente, 18,5% dos cidadãos europeus tem 65 ou mais anos, percentagem que deverá ascender aos 30% em 2080, revela o gabinete de estatística da União Europeia. O número de pessoas com 80 ou mais anos vai, assim, mais que duplicar, de cerca de 5% em 2014 para 12,3% em 2080.

Esta alteração demográfica levou o Eurostat a alertar para os seus efeitos em termos económicos e de inclusão social da população idosa. Em 2013, 18,2% dos idosos encontravam-se em situação de risco de pobreza ou exclusão social. Neste ano existiam mesmo oito países onde as pessoas com 65 ou mais anos estavam em risco de viverem dificuldades do que a população mais jovem, casos da Bulgária, estónia, Eslovénia e Croácia.

SOBRE O DIA 1 DE OUTUBRO – DIA INTERNACIONAL DO IDOSO : um artigo de Maria do Rosário Gama, Presidente da APRe!, uma Associação PASC – Casa da Cidadania.

por Maria do Rosário Gama (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC – Casa da Cidadania, nem das Associações que a compõem).

Rosário PublicoEste dia, instituído em 1991 pela Organização das Nações Unidas com o objetivo de sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa, é mais um dia do calendário em que a comemoração se limita a recordar a necessidade dessa protecção. A mensagem do dia do idoso é a de passar mais carinho aos idosos, muitas vezes esquecidos pela sociedade e pela família. O que o idoso quer é que haja essencialmente respeito pela sua dignidade, reconhecimento pela sua contribuição para o mundo em que vivemos e condições para um envelhecimento activo, não só em termos físicos mas essencialmente através da participação cidadã nas diferentes instâncias da vida pública.

Apesar de ter a quarta maior percentagem de idosos na União Europeia, Portugal é dos países europeus com menos cuidados para idosos. Segundo o jornal Expresso de 28/09/2015:

“Portugal é dos países europeus onde as pessoas idosas são mais abandonadas, com menos profissionais a elas dedicados e menos dinheiro alocado, diz um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado esta segunda-feira”.

“A falta de proteção vê-se também pela percentagem do PIB (Produto Interno Bruto) para os cuidados com os idosos. Portugal dedica 0,1% do PIB, o valor mais baixo dos países europeus representados num estudo publicado pela OIT – “Long-term care protection for older persons: A review of coverage deficits in 46 countries” (Proteção continuada a idosos: uma revisão de défice de cobertura em 46 países)”.

Os idosos portugueses são dos mais pobres da Europa.

Os Aposentados, Reformados e Pensionistas foram, durante os últimos quatro anos, um dos alvos preferenciais do governo, quer pelo corte nas suas pensões, quer pelo permanente incentivo ao conflito intergeracional. O exemplo mais elucidativo do desprezo com que o governo e seus apoiantes trataram os idosos, é a declaração de Carlos Peixoto, deputado do PSD eleito pela Guarda, quando numa crónica no Jornal i, escreveu:

“A nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha.”

E a crónica acabou assim:

“Se assim não for, envelhecemos e apodrecemos com o País.”

“Peste”, “Contaminação” e “Apodrecimento”, palavras não desmentidas por qualquer dirigente do PSD, são suficientes para que cada um tire as suas conclusões.

Dia Internacional do Idoso de 2015: estamos a dois dias de fazer uma escolha para o novo governo. Os idosos têm que, no dia 4 de Outubro, quando forem votar, dizer claramente se querem continuar a ser maltratados e descartáveis. Quem se sentiu legitimado para conduzir uma politica contra os idosos, não pode ter a sua legitimidade aumentada.

A APRe!, que surgiu quando o Governo iniciou o corte de pensões, lutou sempre contra medidas lesivas dos direitos dos reformados. A nossa luta continuará contra as medidas que vierem a ser implementadas, na próxima legislatura, lesivas desses mesmos direitos.